A longa viagem a um pequeno planeta hostil - Becky Chambers


Li rápido, mas não por um mérito de enredo. Sendo franca, não acho que o livro siga um enredo de fato. Vou direto pro Aristóteles, falando sobre a diferença entre uma tragédia e um épico. O épico é feito de vários episódios interligados, estrelados pelos mesmos personagens. Uma tragédia é um único episódio completo, com começo, meio e fim.
Esse livro é um épico. O que, pensando agora, faz bastante sentido. O título é "longa viagem", afinal. Considerando isso, talvez minha crítica seja sem sentido.
A questão é que eu nunca sabia em que ponto da jornada estávamos, quanto tempo fazia que eles estavam em curso. Tem marcadores temporais no começo de cada capítulo, mas não foram o suficiente para me localizar. Especialmente porque estavam na forma espacial-futurista de contar o tempo.
Os personagens são interessantes, mas não aproveitamos o que poderíamos deles. É visível que a autora pretendeu fazer um arco para cada personagem, mas são arcos de ação, no geral, não de desenvolvimento. A maior parte deles termina o livro do mesmo jeito que começou.
Acho que a questão é que a longa jornada não tem um impacto muito grande sobre eles.
Além do mais, os arcos são muito curtos, no geral. O livro começa focando na Rosemary, que tem um segredo, e eu achei que esse segredo ia mover o resto da história. Mas o foco muda entre os personagens a cada capítulo (acho que até dentro de um mesmo capítulo) e não acompanhamos nenhuma história de forma aprofundada. O segredo dela cai pro plano de fundo e só aparece de novo quando é hora de ser revelado e resolvido definitivamente.
Outra coisa que me incomodou: não vemos todas as conversas e situações difíceis que poderíamos. O Neil Gaiman diz na Masterclass dele que jovens autores costumam fugir de conflito. Isso foi bem visível. Toda vez que alguém precisa contar alguma coisa séria pro capitão, tem um salto temporal. Muitas vezes eu nem tinha certeza se a conversa tinha acontecido mesmo ou não. Não parecia ter consequência nenhuma.
Mais sobre os pequenos arcos de personagens: o Dr. Chef, discutivelmente a pessoa mais interessante daquela nave, não teve nenhum. Só ouvimos a backstory trágica e fim.
O livro deveria ser maior, talvez. Para vermos melhor o efeito dos arcos nos personagens, acompanhar o desenvolvimento deles. O Corbin começa a agir de forma drasticamente diferente depois do arco dele e não consigo nem entender por quê. Além disso, o arco dele não chegou nem perto de ser suficiente para transformá-lo em um personagem relevante. Eu esquecia que ele estava lá na maior parte do tempo. Oham também, mas pelo menos eles eram interessantes.
O arco do Ashby... teve um começo com a questão da violência e do pacifismo, mas não teve conclusão. Não sei dizer se a Sissix teve um arco ou não. Alguma coisa sobre diferenças culturais, talvez? Kizzy imagino (imagino) que seja a questão de superar o medo e viver a própria vida - o que inclusive aconteceu com uma velocidade surpreendente. Jenks teve toda a história de amor proibido, mas foi só isso.
Eu esperava bem mais. Visualmente, a edição da darkside é de tirar o fôlego. Eu até estava recomendando para as pessoas quando estava no começo, porque a descrição das espécies alienígenas, em matéria de biologia e cultura, é ótima. São ETs muito bons e um cenário que dá vontade de explorar.
Mas como história, foi decepcionante.

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