Renascimento

Tenho estado emocionalmente instável, por uma série de motivos que não vêm ao caso; coisas de sessão de terapia. Um deles, porém, é óbvio, e não preciso que minha psicóloga me ajude a resolver. Não estou escrevendo.

Certo, estou escrevendo agora. Estava escrevendo no meu diário até esgotarem as páginas (preciso esperar que o novo chegue). Tudo isso é bom, tudo isso ajuda, até certo ponto, mas não é do que estou falando.

Não sou escritora por vocação, sou escritora por necessidade. Quando não escrevo, entro em declínio. É como anemia. Vou ficando mais fraca, mais sensível, mergulho em mim mesma da maneira oposta que a meditação e a terapia recomendam. Perco o propósito.

Sei a solução. Tenho autoconhecimento suficiente para isso. Preciso escrever.

A questão é que o mito do artista depressivo que produz das sombras é exatamente o que está no nome: um mito. Já disse isso uma vez e direi de novo: tudo o que temos de artistas com problemas de saúde mental ou física foi feito apesar desses empecilhos, não por causa deles. Vi uma entrevista com Natalia Ginzburg em que ela diz que produzimos de acordo com o nosso ânimo. Quando estamos felizes, a fantasia flui com vida própria. Quando estamos infelizes, olhamos para dentro. Não saímos de nós mesmos.

Em um momento como esse, em que não saio de casa há mais de um ano, preciso sair de dentro de mim mesma. Meu cérebro é um lugar; um lugar bastante desagradável. Preciso habitar outros mundos, ouvir outras vozes, preocupar-me com outros problemas. 

É tão difícil. Tenho tentado. Escrevo três palavras na página, palavras que evocam imagens interessantes e que me fazem querer saber o que acontece a seguir, esperando que as palavras seguintes apareçam como costumavam. Mas nada acontece.

Acho que vou ter que sair de dentro de mim com unhas e dentes, como da barriga de uma besta. Ou talvez como um renascimento.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Steven Universe!

sentimentos causados por A Letra Escarlate

Meu pobre, precioso holandês.