Feliz aniversário, S. T. Coleridge

Hoje é aniversário de 248 anos de Samuel Taylor Coleridge. Venho estudando um conceito criado por ele há mais de um ano. Já me digladiei com diferentes biografias pra descobrir afinal se ele era o décimo primeiro ou décimo terceiro filho, e descobri que ele pode ser considerado o décimo quarto (depende como você conta; o pai teve duas filhas em um casamento anterior e um dos irmãos mais velhos dele morreu ainda bebê). E passei esse tempo todo achando que ele era escorpiano.

Não, não. Escorpião só começa dia 23. E na verdade faz muito sentido ele ser de libra, porque librianos são artísticos, indecisos e completamente malucos. E o Coleridge era todas essas coisas.

É muito engraçado para mim pensar que ele devia ser chamado de Sam. Sam Coleridge. Sam C. Não consigo pensar nesses termos. Não somos íntimos. Mas eu li trechos do diário de sonhos dele, que criptografou com palavras de diferentes idiomas e símbolos. Sei que casou com uma Sara e que passou boa parte da vida apaixonado por outra Sara. Tento, como tantos outros pesquisadores, justificar os plágios que fez como algo não intencional. Quase duzentos anos depois da sua morte, mais de duzentos depois do seu nascimento, a mente dele me surpreende e fascina. Ah, o que eu não daria para saber seu horário de nascimento e ver os dados do restante do mapa astral.

Coleridge era absolutamente genial. Até quem convivia com ele sabia disso, o que é incomum. Costumamos reconhecer os gênios depois. Ele, porém, era inteligente demais para ser confundido com uma pessoa normal. Era também confuso demais para ser confundido com uma pessoa normal. Coleridge não pode ser identificado como um pensador que trouxe ordem ao caos; bem o oposto. Ele trazia caos para toda ordem em que tocava. Quando publicou a Biographia Literaria, ninguém sabia o que fazer com ela. Rescindia a genialidade e a loucura. As resenhas diziam que ele era incoerente, e ele é, claro, mas parte de mim se pergunta se não se ressentiam de não conseguir acompanhar o seu raciocínio.

A questão é que Coleridge também era uma pessoa. Já enquanto estava vivo começaram os discursos sobre o desperdício de sua inteligência por não usá-la em um esforço direcionado. Coleridge atirava para todos os lados, ansioso a aprender qualquer coisa que lhe parecesse interessante. Grego. Latim. Poesia. Filosofia. Alemão. Teologia. Mesmo em um mundo de polímatas, ele era uma aberração. Produziu muito, mas provavelmente nem metade do que gostaria e imaginou. A comparação clássica é Coleridge e Hamlet. Dois homens que não conseguem partir para a ação.

Coleridge também era um doente, em vários sentidos: suas dores físicas levaram-no a viciar-se em álcool e ópio. Quanto ele poderia ter feito, costumamos lamentar, se não fosse por isso. Eu tenho pensado em outra coisa ultimamente. Sobre o quanto ele fez — apesar disso. É um dos poetas canônicos do romantismo inglês. É considerado um dos pais da crítica literária moderna. É tão surpreendente o que conseguiu atingir mesmo com seus empecilhos que pensamos que ele gastou seu potencial intelectual e criativo, mas estamos tratando de expectativas absurdas. O que mais ele poderia ter feito? Descoberto Deus? Em matéria das artes e das humanidades, não sobra muito mais.

Gosto dos detalhes divertidos a respeito dele, das coisas que o tornam menos titã e mais alguém que eu poderia conhecer. Como da vez em que escreveu um poema dramático por estar triste por seus amigos estarem passeando sem ele (seu pé tinha sido escaldado e não podia andar). Como o fato de que era obcecado por sonhos, a ponto de ser considerado uma espécie de especialista no assunto, e de que manteve um diário de sonhos por anos e anos. Como da vez em que criou um modelo de sociedade comunista com um amigo e estavam decididos a se mudar para os Estados Unidos e colocá-lo em prática, mas — e essa descobri hoje — o amigo queria levar um servo, e Coleridge cancelou tudo e os dois brigaram.

Enquanto escrevo esse texto sobre ele, não estou fazendo meu projeto de escrever um conto por dia no mês de outubro. Deixei-me levar por uma ideia paralela que parecia mais interessante. Tenho certeza de que ele, dentre todas as pessoas, compreenderia.

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