transporte público
Se é para ser técnica, eu cheguei
primeiro. Mas os bancos do ponto
encheram em questão de minutos, e quando ela chegou o único lugar vago era ao
meu lado. Eu tinha esperança de que aquele lugar ficasse vazio, para poder
continuar virada para ele (apoiar os pés, melhor visão do ônibus chegando, sol
nas costas), mas quando ela sentou, só consegui me preocupar com estar
tossindo. Ninguém quer sentar perto de alguém tossindo. E eu não quero passar
minha gripe-sinusite-doença pra ninguém.
Pelo menos o ônibus chegou rápido.
Foi ela que sinalizou para ele parar, então ela também foi uma das primeiras pessoas a
entrar. Eu fui uma das últimas, porque tenho essa mania de deixar todo mundo
passar na minha frente. Quando finalmente entrei, vi muito menos bancos
vagos do que esperava. Dei um passo para frente, pensei em ser jogada
de um lado para o outro enquanto fazia o longo trajeto até uma das portas, entrei em pânico e sentei na cadeira logo ao meu lado.
Talvez ela tenha pensado algo
parecido. Porque ela estava no mesmo banco, na cadeira da janela. Deu vontade de levantar, mas
achei que era melhor ficar lá e ser um pouco estranho do que parecer que tinha
algum problema com ela.
Enquanto o ônibus estava cheio,
ficou tudo bem. Tossi no meu braço, para o outro lado. Mas aí chegamos naquele
ponto – aquele ponto – e, do nosso
lugar beem no fundo, pudemos ver com clareza todos os outros bancos
esvaziando até não sobrar ninguém. No ônibus inteiro.
Tá. E agora. O que fazer.
Continuava sentada lá? Mudava para outro lugar? Não me faltavam opções, mas não
ia ser feio? Assim, se eu tivesse trocado antes, podia ser porque tinha mudado
de ideia, mas agora claramente seria para sair de perto dela. Isso ia ser
grosseiro? Eu nem conhecia a menina. Será que não era mais educado ir tossir longe dela?
O dilema me deixou travada por
pelo menos mais cinco pontos (cinco pontos nos quais ninguém se dignou a entrar
para suavizar a minha agonia) até ela indicar que ia sair. Eu pulei para o
banco do outro lado do corredor antes mesmo de ela vocalizar o licença e fiquei lá, aliviada.
Passei o resto da viagem inteira - mais um terço do trajeto completo - sozinha no ônibus com o motorista. Essa foi
outra espécie de agonia.
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